Muitos acham que a “polarizada ” eleição de outubro de 2022 se dará entre a direita e esquerda ou entre conservadores e progressistas. Apesar de verossímeis, estas definições não expressam com precisão o verdadeiro embate do Brasil de hoje.
Texto: CELSO BALAU @celsobalau
Daqui a menos de 2 meses o Brasil escolherá entre duas forças opostas: a narrativa e a realidade.
A narrativa é certamente bela para um dos dois lados. Um ex-presidente que já foi muito popular e cujo governo foi acompanhado pela sensação de prosperidade em boa parte da população brasileira. Em sua época, havia um perfeito “alinhamento” entre o governo, os outros poderes, a mídia, os artistas e o grande empresariado. Um grande exemplo de “democracia”.
Já do outro lado, a narrativa é claramente negativa. O atual presidente seria “antidemocrático”, com tendências até mesmo “fascistas”. Um “negacionista” também, que foi “contrário” às vacinas experimentais que prometiam proteção contra o vírus que chegou para assustar o mundo em 2020.
Esta é a narrativa bombardeada a todo instante pela mídia e por outras forças de opinião pública na maior parte dos últimos anos. E a realidade? Bom, a realidade é outra história, pouco contada nos círculos tradicionais.
A realidade nos conta que aquele belo protagonista da narrativa, foi, na verdade, julgado e condenado por pelo menos 10 juízes no Brasil, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Foi preso, e considerado o maior líder de crimes contra o patrimônio público da história das democracias modernas. Um verdadeiro chefão do crime, nas palavras de um conhecido procurador de Justiça. No entanto, por conta de “particularidades” da “Justiça” brasileira, seu processo foi “anulado” por motivos “inexplicáveis”, e ele hoje pode concorrer ao cargo máximo da nação, mesmo não tendo sido inocentado.
Que alguém com este “currículo” possa ser candidato viável ao cargo máximo da Nação é uma afronta ao cidadão de bem brasileiro. Uma cusparada na sua cara. Haja narrativa para “normalizar” isso..
Afinal, a realidade nos recorda que nos 13 anos que seu partido esteve no poder, ele inchou a máquina pública de forma grotesca, estimulou consumo e crédito de forma insustentável, saqueou cofres públicos para compra de apoio político e enriquecimento ilícito, interviu de forma desastrosa na economia e ainda doou recursos brasileiros para obras em ditaduras comunistas lideradas por assassinos “amigos”, como os irmãos Castro, entre outros. Sem falar no divisionismo estimulado na sociedade, e a destruição das empresas estatais.
Desde que o pesadelo do governo petista terminou em 2016, os 2 governos seguintes tentaram e ainda tentam a todo custo consertar o estrago daqueles 13 anos de incompetência e desonestidade.
A realidade nos conta ainda que o grande “defensor” da democracia, não apenas financiava ditaduras estrangeiras com dinheiro público brasileiro, mas também defendeu diversas vezes acabar com a liberdade de imprensa e da internet através de “regulamentações”.
Por outro lado, a mesma realidade nos conta que o atual presidente é contra qualquer regulamentação ou censura da mídia e redes. É contra medidas arbitrárias feitas na pandemia como lockdown ou passaporte sanitário . É um ferrenho defensor do direito sagrado do cidadão de bem de se defender. Na narrativa, é um “antidemocrático”. Na realidade, defende a liberdade dos brasileiros com unhas e dentes.
A realidade nos mostra ainda que em 3 anos e meio de governo nenhuma medida autoritária ou ditatorial veio do Planalto. Ao contrário, as leis e reformas que vieram do Executivo sempre buscavam menos interferência do Estado na vida das pessoas. A busca por uma democracia liberal esteve sempre presente, mesmo que de forma imperfeita.
No plano econômico, a realidade nos lembra que tivemos em 2003 uma onda de “prosperidade” no início do governo petista, que herdou a “casa arrumada” pelos antecessores tucanos. O PT governou sob um vento de cauda extremamente favorável vindo de fora – com a China crescendo seu PIB em dois dígitos e importando riquezas naturais do Brasil como jamais havia ocorrido antes. O PT nos passou a ideia de ter mantido a casa em ordem no início do governo, porém hoje sabemos que as “maldades” haviam sido iniciadas já nesta época, e o modelo insustentável de pilhagem do Estado brasileiro veio a ruir anos depois.
Hoje, o atual governo continua tentando arrumar o estrago feito de 2003 até 2016. Porém, neste meio tempo, tivemos a maior pandemia global em 100 anos, com uma resposta equivocada de boa parte dos líderes no exterior, o que contribuiu para uma grande aceleração nas tendências de inflação global – que atinge seus níveis mais altos em muitas décadas. Lembrando que o atual governo federal foi uma das únicas vozes contrárias ao “Fique em Casa que a Economia a gente vê depois”. Porém, a histeria de outros protagonistas da vida pública brasileira falou mais alto, e o país sofreu imensamente.
E se não bastassem os turbulentos anos de 2020 e 2021, em 2022 o mundo veio a sofrer mais ainda com a guerra entre Russia e Ucrania, que jogou o preço do gás e petróleo ainda mais para cima, piorando o já complicado cenário de inflação no Brasil e no mundo.
Mesmo diante disso tudo, a realidade nos conta que, nos últimos 3 anos e meio, foram entregues dezenas, ou centenas de medidas importantes para o Brasil, que já trazem e trarão resultados expressivos nos próximos anos, como: Marco Legal do Saneamento, Marco das Ferrovias, Marco do Gás, Reforma da Previdência, Lei da Liberdade Econômica, Independência do BC, Privatização da Eletrobras, BR Distribuidora, TAG, entre outras. A Reforma Administrativa infelizmente não foi feita formalmente, mas um desmonte “silencioso e gradual” dos excessos de décadas no custeio da máquina pública tem sido feito desde o início do governo, visando diminuir o fardo fiscal que estes representam para o país. Longe do ideal, mas razoável por ora.
Na agenda de infraestrutura, foram concluídas inúmeras obras Brasil afora, como a emblemática Transposição do Rio Sâo Francisco, que levará água para uma área relevante do Nordeste – um sonho de muitas décadas. Além disso, construções e concessões de estradas, portos e aeroportos também avançaram trazendo investimentos, empregos e melhores serviços para os brasileiros.
As estatais, pilhadas no governo petista, tem batido recordes de lucros recentemente.
E as vacinas experimentais? A narrativa foi de que o atual presidente era “contra as vacinas”, por ele não a ter tomado e por ter sido vocal contra qualquer medida coercitiva envolvendo as mesmas.
Na realidade, elas foram disponibilizadas para a população brasileira no momento em que isso foi legalmente possível. A controversa compra da Pfizer, não poderia ter sido feita sem a aprovação de mudanças legais no país. Tais mudanças vieram por iniciativa do Senado, na figura de seu presidente. Inclusive ele está em vídeo explicando sua atuação neste sentido (TV Senado, 11/março/2021 e também de 23/fev/2021 ). Muito antes disso, em junho de 2020, o governo federal assinou com a Oxford/AstraZeneca em termos que eram viáveis legalmente, inclusive com a realização de testes em voluntários feitos em território nacional.
Por fim, a narrativa eleitoral e política. Nas últimas semanas diversas figuras importantes do Brasil assinaram um “manifesto pela democracia”. Qual a motivação? Foi um tipo de “resposta” às críticas ao sistema eleitoral brasileiro, único no mundo, com exceção de Bangladesh e Butão. Estas críticas, que deveriam ser consideradas normais em uma democracia, foram taxadas de “ameaças às instituições”
Qual a realidade? A PEC de 2021 que previa maior transparência no processo eleitoral, com o voto auditável/impresso sendo adicionado ao voto eletrônico (permitindo a checagem posterior), foi sabotado pelo Judiciário em uma interferência grotesca de um dos ministros, que se reuniu no Parlamento com lideranças partidárias para tratar do tema. Após esta reunião, os mesmos trocaram as lideranças da comissão da PEC por novos membros contrários a mesma. Como resultado, a PEC não foi aprovada. Este tipo de “interação” do Judiciário com o Legislativo é inconstitucional (um ministro não pode exercer atividade político/partidária).
A história não é só essa. Em 2015, já havia sido aprovada lei ordinária que previa a auditoria impressa das urnas eletrônicas, por iniciativa do atual presidente, quando ainda deputado. Apesar da matéria ter sido aprovada pelo Congresso com expressiva votação, não foi atendida pela Justiça Eleitoral, e anos depois a Suprema Corte a julgou “inconstitucional”
Qual a realidade? Nossa Constituição Federal é de 1988. Não haviam urnas eletrônicas na época, portanto é impossível que o voto impresso possa ser inconstitucional. Era o único que existia em 1988!
Por isso a iniciativa em 2021 de adicionar a matéria como PEC. Diferentemente de uma lei ordinária, uma Emenda a Constituição não pode ser inconstitucional, por definição. Mas, na narrativa, cabe tudo. O papel aceita tudo. Inclusive que o atual presidente ameaça a democracia, quando justamente ele defende maior transparência no processo eleitoral.
De forma geral, uma das armas da narrativa, são os “crimes futuros”. Como no filme “Minority Report”, onde num futuro ficcional forças policiais perseguiam pessoas com uma tecnologia capaz de entrar na mente delas e se antecipar à intenção de cometer um crime grave. Dois exemplos bem visíveis tem sido “o presidente eleito vai dar um golpe”, e o circo da “CPI da pandemia” que tentou culpar o governo federal por uma “corrupção em vacinas indianas não compradas”. A triste ironia é que a mesma CPI ignorou de forma assumida indícios de irregularidades nos gastos realizados por governos estaduais nas compras emergenciais na área da saúde.
Mas, de verdade, qual será a realidade por detrás de tudo isso?
Em suma, possivelmente alguns, ou muitos, dos que vendem estas narrativas, estão salivando pela volta do ex-presidente corrupto, e com ele a volta do capitalismo de compadrio e toda uma série de benesses estatais para “grupos privilegiados”. Esse tipo de arranjo costuma funcionar muito bem para o topo da elite política e econômica de um país, porém costuma ser desastroso para a maior parte da população.
Estes são a verdadeira ameaça à democracia. Os que preferem uma oligarquia chamada falsamente de “democracia”.
É curioso lembrarmos que o fascismo se caracterizava justamente por isso, um “capitalismo de Estado ”, com uma simbiose entre o poder econômico e o poder político, com o Estado no centro de tudo.
A ironia é que socialistas e petistas de plantão tratam por “fascistas” os defensores do presidente. Mas estes são, essencialmente, em sua grande maioria, defensores da liberdade. Poderiam ser chamados de conservadores, de neo-liberais, ou até mesmo pejorativamente de reacionários, mas nunca de apologistas do fascismo, que é a ideologia irmã do comunismo.
Os dois “ismos” são duas faces da mesma moeda, a do totalitarismo, onde o indivíduo é anulado, e o “coletivo” vira uma espécie de religião. Estes arranjos invariavelmente terminam em miséria e genocídio, como vimos no século 20. Os que se intitulam “anti-fascistas” atualmente tem mais similaridades com o fascismo do que os alvos de suas críticas, que são ferrenhos defensores dos direitos individuais. A máxima leninista “chame-os do que você é” nunca foi mais verdade que no Brasil de hoje.
A narrativa virou inimiga da realidade. Seu completo oposto. Uma desconexão digna de filmes de ficção distópicos. De um lado, a turma da narrativa, sedenta por verbas e benesses estatais se dá ao luxo de viver no mundo do faz de conta. Do outro lado, o Brasil que trabalha e produz, é confrontado pela realidade diariamente e tenta se manter conectado ao mundo concreto, onde ações valem mais que palavras.
Em 2022, o país vai escolher entre o presidente de “maus modos” e bons princípios, e o ex-presidente corrupto de “bons modos e maus princípios”.