Uma perícia judicial realizada em Santa Catarina por um Perito da Justiça Federal, com participação de um neurologista, um radiologista e um patologista, concluiu que há nexo causal direto entre a aplicação do imunizante da Pfizer contra a Covid-19 e o óbito de uma criança, identificada pelas iniciais V.R., filha de Alice Romano. A conclusão surge após quase três anos de espera, diligências e coleta de documentos em diferentes órgãos públicos – entre eles Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Anvisa – conduzidas pelos advogados Eduardo Bastos Lima, Fabrina Trilha e pela assessora jurídica Renata Magalhães.
Mas a relevância do laudo vai muito além da confirmação do nexo causal. O documento, concluído nesta terça-feira, 18 de novembro, permanece sob sigilo – nem mesmo a família teve acesso a ele até agora. E a razão é grave: o laudo não apenas reconhece a relação entre a vacina e o óbito, como também afirma que a farmacovigilância brasileira é estruturalmente falha e não confiável.
Em suas respostas técnicas, o perito judicial apontou que as estatísticas oficiais são imprecisas e estruturalmente falhas, exatamente por conta da chamada tripartição dos sistemas de vigilância, que fragmenta notificações e impede a construção de uma base de dados sólida. Em outras palavras, o próprio perito da Justiça Federal declarou que não é possível confiar na qualidade nem na completude das informações que embasam as políticas públicas sobre segurança vacinal no Brasil.
Esse ponto, ressaltam os advogados, é tão importante quanto – ou até mais do que – o reconhecimento do nexo causal em si. “É por isso que a gente precisa trazer isso a público”, afirmam. “O Ministério da Saúde fala em perseguir médicos, cassar vozes e punir profissionais, enquanto o perito oficial diz que os dados usados pelo próprio governo são inadequados. Como é possível punir médicos por questionar estatísticas que a Justiça Federal considera ‘inapropriadas’?”
O caso de V.R, de 13 anos, vacinada em 5 de novembro de 2021 e falecida em 10 de janeiro de 2022. é emblemático. Vanessa apresentou sintomas severos poucos dias após a aplicação – vômitos intensos, paralisia ocular, perda gradual da voz e dos movimentos – até perder totalmente a capacidade de se mexer. Os órgãos oficiais afirmavam não haver vinculação de nexo causal, revelando exatamente o problema apontado pelo perito: sistema de vigilância incapaz de investigar com profundidade e precisão.
Com a nova perícia judicial, abre-se uma janela inédita: pela primeira vez, um documento oficial da Justiça reconhece simultaneamente o nexo causal de um óbito infantil e a fragilidade estrutural da farmacovigilância nacional, que serviu de base para narrativas políticas e para a criminalização de médicos.
Diante desse cenário, a pergunta inevitável permanece: quem realmente produziu fake news nos últimos três anos – as famílias que denunciaram reações adversas ou os órgãos e veículos que garantiram, sem investigação consistente, que tudo não passava de coincidência?
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